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Juventude árabe, arquitetos de seu futuro

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"The old and the new" (O velho e o novo, em tradução livre), em Beirute, no Líbano, 2018.

Fotos: Yan Bighetti de Flogny (Projeto Al Safar) / Instituto MiSK Art

Texto: Katerina Markelova

O fotógrafo francês Yan Bighetti de Flogny estava no Paquistão quando, durante uma conversa com um dono de hotel, soube da existência de Ibn Battuta, o explorador marroquino do século XIV. Injustamente pouco conhecido, Ibn Battuta é, talvez, o maior viajante que já viveu”, como nos conta um artigo de O Correio da UNESCO de agosto-setembro de 1981.

“Aos 21 anos, ele começou suas viagens fazendo uma peregrinação à Meca. Esse foi o início de 30 anos de andanças, durante os quais ele percorreria quase 120 mil quilômetros e visitaria todos os países muçulmanos. No decorrer dessa grande jornada, comparável apenas àquela de Marco Polo, ele visitou Meca quatro vezes, tornou-se juiz em Déli e nas Ilhas Maldivas, acompanhou uma princesa grega até Constantinopla, navegou para Sumatra e Java, e viajou à China como embaixador do Sultão da Índia. Então, em 1349, ele retornou brevemente ao seu próprio país (“a melhor terra do mundo”) antes de partir imediatamente para o reino de Granada e, depois disso, para uma jornada pela África rumo à bacia do Níger. O diário que Ibn Battuta ditou à um escriba no decorrer de suas viagens é uma fonte da primeira importância para a história do mundo muçulmano de sua época, especialmente para a história da Índia, da Ásia Menor e da África Ocidental”.

A história inspirou nosso fotógrafo, cujo projeto de reportagem sobre a luta contra os preconceitos culturais vinha amadurecendo há anos. Contudo, faltava um ponto em comum, que ele agora havia encontrado: Yan decidiu que embarcaria em uma longa jornada, seguindo os passos de Ibn Battuta! O projeto foi lançado em março de 2018, levará três anos, e abrangerá mais de 20 países, do Marrocos à China, seguindo um itinerário similar àquele empreendido pelo explorador marroquino sete séculos antes.

Atualmente, Yan e sua equipe estão na metade do caminho, tentando “restaurar alguma precisão e um pouco de cor para o mundo muçulmano erroneamente menosprezado pelo Ocidente”. Todas as vezes que chega em casa, fica perturbado pela lacuna entre o modo como as pessoas ao seu redor olham para esse mundo desconhecido e a realidade que ele testemunha durante suas viagens: “o calor, a hospitalidade, a profunda generosidade e, especialmente, as pessoas que têm os mesmos sonhos e as mesmas tristezas que nós temos”.

O fervor da juventude

A juventude árabe, com sua determinação inabalável de escolher seu próprio destino, emergiu como um dos pilares do projeto. É para eles que O Correio dedica esta fotorreportagem, publicada por ocasião do Dia Internacional da Juventude, 12 de agosto.

O desejo de viver e mudar suas vidas é o que une os jovens do Oriente Médio e da África do Norte (MENA, sigla na língua inglesa). “Onde quer que você esteja, você realmente sente uma energia comum. Encontrei muitas semelhanças em seu modo de vida, em sua visão do futuro”, explica Yan. “Às vezes, acho que os mais velhos ficaram presos em certos desentendimentos que os jovens apenas querem esquecer”.

Diante da maior taxa de desemprego entre os jovens do mundo, 49% para as mulheres e 27% para os homens, os jovens da região não estão desistindo. “Não senti qualquer negatividade ou falta de esperança”, diz o fotógrafo. “O problema do desemprego é preocupante, mas muitos dos outros desafios enfrentados pela região até 20 anos atrás – como o acesso à educação, à água potável e ao saneamento – são menos predominantes atualmente”.

De acordo com o Banco Mundial, duas em cada três pessoas na região do MENA têm menos de 24 anos. O peso demográfico da juventude árabe faz deles uma força viva e lhes concede um lugar central nas sociedades árabes de amanhã. “A centelha foi acesa”, diz Yan. “Eles não desistirão, sabem o que querem e, em minha opinião, tomaram o caminho certo para chegar lá”.

Produzido pela plataforma cultural internacional Al Safar (“viagem” em árabe), o projeto In the footsteps of Ibn Battuta (Nos passos de Ibn Battuta, em tradução livre) está em andamento em parceria com a UNESCO, a edição digital francesa da National Geographic e o Instituto de Arte MiSK.

Pôr do sol sobre a Mesquita Hassan II, em Casablanca, no Marrocos, em 2018. Em primeiro plano estão os dançarinos do grupo de hip-hop Lhiba Kingzoo, formado na cidade em 2005. 

Jogo de futebol no coração da cidade história de Jidá, na Arábia Saudita (2019), inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. 

Jana, 16 anos, alpinista campeão, frequentemente escala as rochas altas de Wadi Rum, na Jordânia, 2018. A área protegida está na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.   

 Um jogo de reflexos no Palácio El Mechouar, em Tlemcen, na Argélia, que data da Idade Média (2018). 

Uma tarde na praia, Aqaba, Jordânia, 2018.

Uma noite tranquila no corniche, em Trípoli, no Líbano, em 2018. Um admirador das grandes pinturas orientalistas, o fotógrafo compõe suas fotografias em vários níveis. A primeira visualização, à distância, permite que sejam observadas a preparação e as cores. À medida que o espectador se aproxima, mais detalhes podem ser examinados.   

Três jovens mulheres capturadas em um momento suspenso em meio as perpétuas idas e vindas dos bondes em Alexandria, Egito, 2019. 

Rochdi Belgasmi, sob a Ponte da República, em Túnis, na Tunísia, em 2018. Esse jovem dançarino, cuja notoriedade continua a crescer, tem tido que lutar para ter sua visão inovadora reconhecida.

O grafiteiro Ed One em ação, Casablanca, 2018. Os antigos abatedouros da cidade marroquina foram agora convertidos em um espaço cultural dedicado às artes urbanas e contemporâneas.