
Diários de viagem no confinamento
Nazik Armenakyan, Yerevan, Armênia: “11° dia do isolamento. Autorretrato com uma cerejeira florescendo no quintal do nosso escritório. Eu dirigi até lá para buscar algumas coisas importantes. Nosso escritório está trancado há mais de dez dias”.
Fotos: 12 fotógrafas do projeto The Journal do grupo Women Photograph
Texto: Katerina Markelova, UNESCO
Isolamento, perda de renda, esmagadores encargos domésticos – as mulheres fotógrafas foram duramente atingidas pelo confinamento imposto para conter a pandemia da COVID-19. Diante desta situação inédita, mais de 400 mulheres fotógrafas se juntaram em um projeto colaborativo único, The Journal (O Diário) – que começou de forma espontânea em meados de março de 2020, após uma chamada no Facebook pela comunidade Women Photograph.
Lançada em 2017, essa rede – cuja missão consiste em aumentar a presença de mulheres fotojornalistas na mídia – atraiu mais de mil membros em mais de cem países.
As fotógrafas que participaram do projeto The Journal documentaram por meio de imagens suas vidas diárias ao longo das semanas e meses de confinamento. De Bangkok a Kampala, passando por Beijing, Tbilisi e Cidade do México, elas oferecem relatos muito pessoais, poéticos, melancólicos e bem-humorados de seu autoisolamento. Esse mergulho em suas vidas privadas retrata um momento paradoxal – vivido coletivamente, mas com cada uma em sua própria casa.
A perspectiva dessas mulheres, que é reivindicada como tal, é rara em um meio social em que as mulheres fotojornalistas estão flagrantemente sub-representadas. “Não há uma escassez de mulheres fotojornalistas, apenas um déficit de contratações equitativas”, explica Daniella Zalcman, fundadora da Women Photograph. A organização sem fins lucrativos, que compila dados sobre paridade na área do fotojornalismo, aponta que apenas 29,5% das fotos publicadas no The New York Times em 2019 foram tiradas por mulheres. No Le Monde e no The Guardian, esse número é de pouco mais de 10%. É provável que a pandemia amplie ainda mais essas desigualdades.
Cerca de 96% das participantes da Women Photograph afirmam ter sido afetadas financeiramente pela pandemia. O coletivo criou o Fundo de Emergência Women Photograph COVID-19 para ajudar suas participantes, cuja maioria é composta por fotógrafas independentes.
Yan Cong, Beijing, China: “No terceiro dia da minha quarentena de 14 dias em um quarto de hotel em Beijing, eu comecei a tirar fotografias pelo olho mágico. Durante toda a quarentena, eu não tinha permissão para sair do meu quarto, e todas as minhas refeições eram deixadas na porta, para evitar contato interpessoal direto. O olho mágico se tornou a única maneira de eu observar o aparato da quarentena”.
Tarina Rodriguez, Cidade do Panamá, Panamá: “Quando o anormal se torna normal na vida cotidiana. Esta é a entrada da minha casa”.
Saumya Khandelwal, Nova Delhi, Índia: “Esta é uma foto do meu avô, Mahesh Kumar Khandelwal, enquanto ele se barbeia à luz do sol que entra em seu quarto em Lucknow, no dia 22 de março de 2020. Nós tínhamos acabado de vender nossa casa ancestral – onde a foto foi tirada – e devíamos nos mudar alguns dias depois, mas o confinamento atrasou esses planos. Enquanto isso, eu estou aproveitando o tempo extra que recebi na casa onde cresci”.
Janet Jarman, Cidade do México: “A segurança no México, onde eu moro, se deteriorou de forma significativa nos últimos anos, adicionando um nível extra de estresse à crise de saúde. Tenho certeza de que não estou sozinha”.
Khadija Farah, Nairobi, Quênia: “Alguns dias eu não acordo me sentindo como um pano molhado. Quando isso acontece, eu reúno energia suficiente para fazer uma máscara facial, pintar minhas unhas e tagarelar com minhas melhores amigas ao redor do mundo sobre assuntos não relacionados ao vírus. Esses dias estão se tornando mais frequentes, e são quando sinto um pouco mais de mim voltando”.
Iman Al-Dabbagh, Jeddah, Arábia Saudita: Zahra e Samer haviam planejado estar em um resort no Egito para seu casamento quando a epidemia começou. Em vez disso, eles acabaram se casando discretamente em casa.
Sumy Sadurni, Kampala, Uganda: Alicia (à direita) está em confinamento desde antes da pandemia da COVID-19, devido a ferimentos graves que sofreu em um acidente em Kampala. Danny (à esquerda), que está cozinhando uma cabra em um fogão ao ar livre, é seu companheiro, amigo e sistema de apoio. Agora que os dois estão sempre em casa, passam o dia assando pão, cozinhando, se recuperando e relaxando.
Watsamon “June” Tri-yasakda, Bangkok, Tailândia: Entregadores de comida praticam distanciamento social enquanto aguardam pedidos de comida e bebida de restaurantes abertos para retiradas no local e entregas em domicílio.
Leia mais:
Women conquering new expanses of freedom, The UNESCO Courier, April-June 2011
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