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Nova Orleans: bairros negros prestam homenagem aos nativos americanos

Fotos: Lynsey Weatherspoon

Texto: Katerina Markelova, UNESCO

A tradição dos Indígenas do Mardi Gras (Terça-Feira Gorda) é uma das menos conhecidas no sul dos Estados Unidos. Todos os anos, em fevereiro ou no início de março, mais de 40 “tribos” com nomes como Wild Magnolias (Magnólias Selvagens), Golden Eagles (Águias Douradas) e Washitaw Nation (Nação Washitaw) juntam-se ao Carnaval de Nova Orleans* para competir em duelos simbólicos, superando umas às outras com suas canções e danças rituais. A exuberância de seus trajes é inspirada pelo vestuário cerimonial dos povos indígenas das Grandes Planícies. Essa é uma forma de as comunidades afro-americanas da cidade prestarem homenagem aos nativos americanos que acolheram escravos fugitivos nos igarapés (bayous) da Luisiana.

Excluídos de participar das festividades do Mardi Gras – uma tradição trazida para a Luisiana pelos franceses no final do século XVII –, os bairros negros de Nova Orleans estabeleceram suas próprias comemorações. As primeiras tribos de “indígenas negros” foram formadas no final do século XIX. Para um escravo negro liberto, tornar-se um “indígena” era uma forma de afirmar dignidade e respeito pela resistência dos nativos à dominação branca.

Decorados com centenas de milhares de pérolas, lantejoulas e brilhantes, as fantasias, com cocares de penas de avestruz em cores vivas, podem pesar até 70 quilos. Inteiramente feitos à mão, podem levar um ano inteiro para serem produzidos. Cada membro das tribos tem uma posição definida. A casa do Grande Chefe serve tanto como sede quanto como oficina de costura, onde as longas sessões de bordado são propícias à transmissão oral de conhecimentos. Os membros das tribos sobem na hierarquia de uma complexa organização social. A Grande Rainha agora ocupa um lugar cada vez mais importante.

A música desempenha um papel central nos desfiles dos Indígenas do Mardi Gras. Progredindo ao ritmo da percussão, as tribos costumam usar o canto de chamada e resposta – uma forma binária que consiste em um diálogo entre um solista e um grupo. Cantada nas antigas plantações, esse gênero musical africano é uma das origens do jazz.

Com o passar do tempo, essa tradição se espalhou para outras ocasiões ao longo do ano, como o Dia de São José, o Super Sunday (Super Domingo) e o Festival de Jazz e Patrimônio de Nova Orleans. As fotos desta série foram tiradas em 2017, durante o Super Sunday, que acontece no domingo mais próximo ao Dia de São José, celebrado todos os anos em 19 de março.

*O festival Mardi Gras 2021 de Nova Orleans, que atrai mais de 1 milhão de pessoas a cada ano, foi cancelado devido à pandemia.

Esta fotorreportagem marca o Dia Mundial da Cultura Africana e Afrodescendente, celebrado em 24 de janeiro.

 

 

 

Leia mais:

The Slave trade: a peculiar cultural odyssey, The UNESCO Courier, Dec. 2004

Dancing with masks, The UNESCO Courier, Dec. 1996

Rediscovering 1492, The UNESCO Courier, May 1992
 

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