
Geração Greta
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Para a nova geração, mudar o mundo significa, acima de tudo, salvar o planeta. Seus membros proclamam isso em alto e bom som – nas redes sociais, nas ruas ou por meio de movimentos de desobediência civil, como greves escolares. A escala de mobilização mundial das pessoas com menos de 25 anos é compatível com a urgência dos desafios ambientais que nós enfrentamos.
Anna Turns
Jornalista ambiental em Devon, no Reino Unido, ela ensina jornalismo na Universidade de Plymouth Marjon.
Desde que se sentou diante do Parlamento sueco, em agosto de 2018, e entrou em greve escolar com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a crise climática, Greta Thunberg conquistou milhões de seguidores em todo o mundo. Atualmente, o movimento da juventude pelo clima é considerado por muitos como uma voz forte e unificada – que encontrou uma enorme ressonância em todo o mundo entre a Geração Z, das pessoas nascidas após 1995.
Todas as sextas-feiras desde janeiro de 2019, Holly Gillibrand, 15 anos, tem feito greve em sua escola em Fort William, na Escócia. “Trata-se de rebelião – esse tipo de desobediência civil mudará tudo. precisamos de mais pessoas, adultos e crianças, que exijam mudanças e se rebelem contra o sistema que causou esta crise”, explica Holly, que é voluntária no movimento climático mundial Fridays for Future (Sextas-feiras para o Futuro), iniciado por Greta Thunberg.
“Nós trabalhamos todos juntos por um objetivo comum, para criar um futuro diferente, e isso me traz esperança, mas é frustrante quando os adultos me dizem que o que eu faço é ótimo – enquanto eles mesmos não fazem nada a respeito”.
Embora os ativistas jovens desempenhem um papel fundamental na amplificação do apelo por uma mudança radical, Holly sabe que não há tempo a perder para que os jovens de hoje se tornem os líderes de amanhã. “É importante que os jovens compreendam que podem mudar alguma coisa agora mesmo – nós podemos ser uma influência poderosa sobre os pais que votam, ou podemos nos conectar com outras pessoas com as mesmas preocupações”, insiste ela.
Uma experiência coletiva
Para Holly e muitos outros, a luta contra a mudança climática é uma experiência coletiva. As greves mundiais dão às pessoas um senso de capacidade de ação e um sentimento de que fazem parte de algo muito maior do que elas próprias. Segundo a coach profissional de clima Charly Cox, isso leva à conexão e, em última análise, a um maior potencial para mudança.
Trabalhando na cidade em Oxford, ela ajuda as pessoas a fazerem a transição para carreiras mais verdes. “O isolamento é uma grande ameaça a qualquer tipo de ativismo, e os jovens tendem a se reunir em massa nas escolas ou nas universidades, para que possam compartilhar suas vulnerabilidades e trabalhar juntos”, diz Charly, que sente que o sistema como um todo está se movendo na direção de um novo paradigma, e que há uma sensação de prontidão para mudanças. “Como pais e jovens, nós temos um interesse muito definido no futuro, e a pandemia nos deu uma enorme capacidade imaginativa que não tínhamos antes, para considerar novas possibilidades. Agora, eu acredito que as vozes dos ativistas concordam com a mudança das crenças no sistema geral”.
Tantas soluções partem de uma necessidade fundamental relativa a uma melhor compreensão da crise, algo que não existe em muitas escolas por todo o mundo. No Reino Unido, a campanha Teach the Future (Ensine o Futuro) liderada por estudantes, pede por uma revisão urgente do sistema educacional, a fim de se refletir melhor sobre a emergência climática e a crise ecológica – desde a adequada e aperfeiçoada capacitação sobre o clima para professores , até edifícios escolares mais eficientes em termos energéticos, currículos que abranjam a crise e cursos vocacionais que ofereçam capacitação em habilidades verdes.
Semear uma sensação de confiança
Enquanto escrevia seu livro, Eddie Reynolds, coautor de Climate Crisis for Beginners (Usborne, 2021), fez um esforço consciente para fornecer às crianças – e a seus responsáveis – as ferramentas de que necessitam, sem lhes dizer que precisam fazer alguma coisa. “As pessoas subestimam a capacidade das crianças de compreender os conceitos e lidar com eles de forma emocional. Nós tentamos apenas tornar todos os aspectos do clima mais tangíveis – da economia à política –, explicando que eles são o resultado de muitas escolhas individuais de diferentes povos. As pequenas ações de todos são realmente importantes”, diz Eddie, que espera que livros como o seu produzam novas conversas sobre o clima.
Sarah Goody, uma estudante de 16 anos que mora em São Francisco, nos Estados Unidos, diz que “encontrou seu propósito” depois de aprender brevemente sobre a emergência climática na escola. Ela começou a fazer greves e a pesquisar sobre o assunto com mais profundidade, e depois disso, fundou a Climate NOW, uma organização que tem como finalidade educar e capacitar jovens. Até o momento, ela já realizou palestras para turmas em mais de 70 escolas.
“Nós fornecemos ferramentas e recursos às crianças em idade escolar, mas nosso trabalho também visa a semear um senso de confiança, para que os jovens sintam que suas vozes são importantes – porque a minha geração é aquela que enfrentará os piores efeitos da mudança climática”, explica Sarah.
Agora, Sarah está otimista de que ela e seus colegas terão sucesso como agentes da mudança. “A Geração Z é a geração compassiva e que procura mudar o mundo”, diz ela. “O futuro é empolgante – nós podemos reestruturar nossa sociedade para refletir os ideais que temos para um planeta melhor. Muitas inovações podem surgir a partir desse movimento”.
Em âmbito internacional, a Climate Cardinals é uma plataforma sem fins lucrativos liderada por jovens que torna informações ambientais mais acessíveis a todos por meio da tradução. “Os ponteiros do relógio da crise climática estão batendo-se movendo, mas qualquer estudante bilíngue motivado pode começar a disponibilizar informações importantes durante esta crise”, diz a voluntária Cristina C. Leon, 17 anos, estudante de Lima, no Peru, que fala espanhol, inglês e alemão. Ela entende que a língua é uma grande barreira à transferência mundial de conhecimento científico.
Desde seu lançamento, na primavera de 2020, mais de 8 mil jovens voluntários como Cristina traduziram informações sobre o clima para mais de cem línguas, do hebraico ao urdu. “Nossas traduções empoderam diretamente as comunidades mais vulneráveis, ao priorizar a agenda climática. É uma questão de não deixar ninguém para trás, independentemente da língua ou do nível de educação”, acrescenta.
Ser ousado e criativo
Também não se trata apenas de ciência. Cada vez mais, o clima se tornará uma grande parte da nossa cultura – o que permitirá às comunidades criarem espaços seguros para explorar e lidar com as fortes emoções associadas à crise. Serayna Solanki, 25 anos, defensora da justiça climática que vive no Reino Unido, é curadora de um programa criativo intergeracional para minorias étnicas chamado Jardim das Avós, com foco em mudança climática, natureza e perdas ambientais. “A arte é uma ferramenta poderosa para as histórias, e assume muitas formas em diferentes comunidades mundiais. Desde as canções e as tapeçarias tradicionais até a escrita e o design criativos, ela é um veículo para as emoções, que orienta a sabedoria e a complexidade”, descreve Serayna.
“O ativismo juvenil é tão poderoso porque não há camuflagem verbal ou imprecisão quando fala com os sistemas de poder. Parem o ecocídio. Nós somos diretos porque entendemos o que está em jogo. A mudança climática é resultado do capitalismo colonial”, afirma Serayna. Em sua opinião, a mobilização da Geração Z está longe de ter atingido o seu auge. “Embora os jovens ativistas venham aumentando a consciência sobre a mudança climática, eu acredito que o próximo impulso será ampliar a conscientização sobre soluções falsas e insustentáveis. Com a confiança necessária para ser ousado e criativo, ainda há muita energia pela frente”.
Leia mais:
Zoomers, in their own words. The UNESCO Courier, Apr./Jun. 2021
Arshak Makichyan: o manifestante solitário. O Correio da UNESCO, jul./set. 2019
Rebeldes com causa. O Correio da UNESCO, jul./set. 2011
É isto ou nada. O Correio da UNESCO, jul./set. 2011
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