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Outra forma de se informar

No período de duas décadas, os jovens se afastaram da mídia tradicional – televisão, rádio e meios impressos – na direção das mídias digitais. No entanto, além da mudança de formato, sua relação com as informações como um todo também mudou. A América Latina é um bom exemplo desse movimento rumo a uma internet mais social, interativa e responsiva.

Mariana Souquett
Journalista em Caracas, Venezuela.

Elìas Haig, 15 anos, sonha em ser um divulgador da ciência. Para aprender sobre temas que lhe interessam, este adolescente de Los Teques, nos arredores de Caracas, começou a consultar as plataformas que encontrou na internet. Ele também consulta o Twitter com regularidade. “Isso me permite ter uma visão mais abrangente do que está acontecendo”, explica ele.

Em 2018, aos 12 anos, Elìas criou um blog, La Noción de la procrastinación, onde fala sobre videogames, ciência, redes sociais, filmes e até notícias falsas. Agora, ele decidiu se concentrar em seu blog e em sua conta no Twitter, outra rede social onde já conta com mais de 4,4 mil seguidores. A fim de estabelecer um contato mais direto com seu público, ele também passou a criar podcasts no YouTube.

Em sua busca por informações, Elìas é bastante representativo de sua geração – é hiperconectado, prefere as redes sociais em detrimento das mídias tradicionais e é um transmissor de informações sobre seus temas favoritos.

De acordo com Jorge Alberto Hidalgo Toledo, presidente da Associação Mexicana de Pesquisadores da Comunicação (AMIC), os jovens se apropriaram gradualmente das mídias a ponto de convertê-las em laboratórios para a construção de identidades e de um mundo social. Com isso, eles se tornaram consumidores e produtores de conteúdo, explica ele.

Esportes e entretenimento 

Embora os jovens continuem a consumir questões políticas, sociais e econômicas na mídia, eles geralmente utilizam essas informações como mecanismos para responder às questões existenciais que lhes dizem respeito, acrescenta Jorge Alberto, que também é coordenador acadêmico da Faculdade de Comunicação da Universidade de Anáhuac, no México.

“Existem muitas, muitas maneiras de ser jovem”, continua ele. “Normalmente, nós imaginamos os jovens como um grupo unitário e uniforme, uma massa. No entanto, alguns deles têm uma forte consciência política, que vem principalmente do fato de estarem preocupados com uma questão fundamental: o futuro. E eles são capazes de imaginar esse futuro a partir de uma perspectiva política, econômica, familiar ou profissional”.

Minha família ficará bem? Como será o mundo quando eu terminar meus estudos? Essas são algumas das perguntas que os jovens se colocam nos espaços sociodigitais, segundo o especialista.

Porém, esse interesse dos jovens por questões políticas ou econômicas vem muito depois do seu interesse por esportes e entretenimento – como demonstrou um estudo realizado em 2020 pelo Instituto de Investigaciones de la Comunicación da Universidade Central da Venezuela (Ininco-UCV). 

Outro estudo realizado pelo Ininco mostra que os jovens se concentram em informações relativas à sua vida cotidiana – como os serviços de transporte público urbano ou a taxa de câmbio do dólar. “As informações são cada vez mais sobre conteúdos de interesse prático. Para os jovens, essa mudança de paradigma levou a uma diversificação de fontes, ou a uma substituição da mídia tradicional em favor das mídias emergentes – onde até mesmo um meme pode agora servir como fonte de informação –, como um feed do Twitter ou um podcast”, explica Morella Alvarado, membro do corpo docente do Ininco-UCV.

Atrair novos públicos

Diante dessas mudanças nos hábitos das novas gerações, os meios de comunicação tradicionais estão tentando se adaptar. Alguns jornalistas estão se esforçando para produzir conteúdos voltados para pessoas com menos de 30 anos. No Brasil, Evandro Almeida, 23 anos, integrante da Rede Latino-americana de Jovens Jornalistas, prefere formatos que atraem seus pares. Recentemente, ele produziu uma série de vídeos de longa duração para o Instagram TV (IGTV) e para o YouTube sobre os latino-americanos que vivem em zonas de guerra e de conflito armado.

“Eu criei isso especificamente para as redes sociais, para informar o público jovem da região sobre o que está acontecendo em outros países”, diz Evandro. “Desde 2019, todas as minhas reportagens têm foco nas mídias sociais, para atrair novos públicos jovens”.

Uma história semelhante é a de Noelia Esquivel, 25 anos, repórter do La Voz de Guanacaste, um meio de comunicação independente da Costa Rica. Cada vez mais, ela tem abandonado as fontes tradicionais de mídia em favor das mídias digitais. Sua preferência é por boletins de notícias recebidos por correio eletrônico.

Ao mesmo tempo em que acredita que os jovens de seu país estão recorrendo às redes sociais para encontrar informações, Noelia reconhece que é necessário fazer mais para chamar o público jovem com formatos mais envolventes. “Eles passam muito tempo nas redes sociais”, observa ela. “É lá que descobrem como estão seus amigos, mas também o que está acontecendo no seu país, na sua região e no mundo”.

De acordo com um relatório de 2020 produzido pela GlobalWebIndex, a mudança em direção às mídias digitais parece se justificar, considerando que 51% dos internautas entrevistados na América Latina afirmaram que a principal razão para utilizarem as redes sociais é acompanhar as notícias. Essa é mais uma razão para se fortalecer o acesso à internet na região – a fim de reduzir a lacuna que existe entre aqueles que têm acesso fácil ao conteúdo de notícias e os “pobres de informação”.

Leia mais:

Zoomers, in their own wordsThe UNESCO Courier, Apr./Jun. 2021

Mídia: operação descontaminação, O Correio da UNESCO, jul./set. 2017

 

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