
Introdução
cou_03_21_wide_angle_intro_web.jpg

Agnès Bardon
UNESCO
O declínio das espécies, a diminuição das áreas naturais, a poluição do solo e da água, e a alteração dos ecossistemas devido à mudança climática. Os males que assolam o planeta são bem conhecidos e têm sido documentados há muito tempo. No entanto, ações significativas em âmbito mundial têm demorado a ser implementadas.
A Década das Nações Unidas a Restauração de Ecossistemas (2021-2030) foi anunciada com o objetivo de acelerar os esforços para deter esse fenômeno. A degradação da vida no planeta também estará no centro de várias reuniões importantes planejadas para o ano de 2021, incluindo o Congresso Mundial de Conservação, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature – IUCN, na sigla em inglês) em Marselha, na França, a ser realizado em setembro.
Outra reunião essencial, a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, a COP 15, será realizada em Kunming, na China, em outubro. As 196 partes da Convenção terão a tarefa de definir um Marco Global para a Biodiversidade Pós-2020. Elas definirão o caminho para a comunidade internacional melhorar a proteção dos ecossistemas até 2050.
Um declínio sem precedentes
A situação é urgente. Em maio de 2019, na UNESCO, a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) apresentou uma avaliação alarmante em seu “Relatório mundial de avaliação sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos”. Utilizando dados numéricos para apoiar suas conclusões, a entidade apresentou evidências contundentes de que a saúde dos ecossistemas está se deteriorando em um ritmo sem precedentes.
Atualmente, as atividades humanas estão ameaçando de extinção, em todo o mundo, mais espécies animais e vegetais do que nunca antes na história, observaram os especialistas deste “IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da biodiversidade”.
Os seres humanos modificaram de forma significativa nada menos do que três quartos do ambiente terrestre, e quase 66% do ambiente marinho. Além disso, das 8 milhões de espécies listadas em todo o planeta, 1 milhão já estão ameaçadas de extinção. Isso significa que uma em cada oito espécies de animais ou plantas provavelmente desaparecerá nos próximos anos.
As ações humanas são diretamente responsáveis por isso. A conversão de ambientes naturais – particularmente para a agricultura ou para o desenvolvimento urbano – é a principal causa da destruição e da fragmentação dos habitats naturais. A isso se seguem a exploração dos recursos naturais e a poluição do solo, da água e do ar.
A mudança climática, há muito considerada um fator agravante, agora é identificada como um risco crescente. Entre outros efeitos, ela provoca o deslocamento de algumas espécies, à medida que se direcionam aos polos, aos cumes de montanhas ou às profundezas do oceano. As espécies invasoras são outro fator por trás da extinção em massa – especialmente nas ilhas, onde são especialmente prejudiciais à flora e à fauna nativas.
Criar vínculos com a natureza
A perda de biodiversidade enfraquece a nossa capacidade de alcançar muitos dos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Em suma, ela coloca o nosso futuro em risco. A natureza proporciona os serviços que são essenciais para a existência humana. Um único número resume essa dependência: quase 75% das culturas de alimentos dependem, ao menos em parte, da polinização. E os oceanos, os solos e as florestas absorvem 60% dos gases de efeito estufa emitidos pelos seres humanos.
Quando se trata de mudança ambiental, as populações mais pobres estão na linha de frente. Como guardiões de ao menos um quarto das terras do planeta e de mais de um terço das áreas que ainda não foram alteradas pelas atividades humanas, os povos indígenas zelam por seu patrimônio – no entanto, mesmo isso é cada vez mais cobiçado por seus recursos naturais.
Mesmo assim, muitas vezes essas comunidades indígenas são as guardiãs dos conhecimentos e das práticas que merecem ser mais bem preservadas e promovidas – como é o caso das ações no âmbito do programa de Sistemas de Conhecimento Locais e Indígenas (Local and Indigenous Knowledge Systems – LINKS) da UNESCO. A sabedoria do conhecimento Inuíte sobre os blocos de gelo do Ártico, a agricultura itinerante praticada pelo povo Karen do norte da Tailândia, o conhecimento meteorológico dos pastores da África Oriental – tudo atesta a relevância desse conhecimento prático, que permite aos seres humanos viverem em harmonia com a natureza.
Confiar na resiliência das espécies
Apesar das várias luzes vermelhas, há boas notícias. Uma atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature – IUCN). mostra que algumas espécies estão se recuperando, como resultado de políticas de conservação eficazes. Outras espécies estão mostrando uma resiliência inesperada, ao se adaptarem a ambientes – como áreas urbanas – muito diferentes do seu ambiente nativo.
A designação de um número crescente de áreas protegidas permite que os seres humanos preservem ecossistemas, como as redes de Sítios do Patrimônio Mundial, das Reservas da Biosfera e dos Geoparques da UNESCO, que cobrem quase 10 milhões de quilômetros quadrados – uma área do tamanho da China.
A Convenção sobre Diversidade Biológica Biológica vai ainda mais longe. Em um “projeto zero” atualizado, que servirá de ponto de partida para futuras negociações, ela propõe que os 196 países que fazem parte da convenção se comprometam a proteger pelo menos 30% do planeta até 2030. O documento também pede uma redução de pelo menos 50% da poluição química e plástica, assim como a redução pela metade da proliferação de espécies invasoras em alguns locais prioritários.
Os objetivos declarados são ambiciosos. Eles estão alinhados com os desafios.
Reservas da biosfera: 50 anos de celebração da vida
Integrar o meio ambiente aos programas escolares até 2025
Leia mais:
A reconstituição da vida marinha, O Correio da UNESCO, jan./mar. 2021.
Os seres humanos são uma força geológica, O Correio da UNESCO, abr./jun. 2018.
SIKU: tecnologia de ponta combinada com conhecimento ancestral, O Correio da UNESCO, jan./mar. 2019.
Assine O Correio da UNESCO para artigos instigantes sobre assuntos contemporâneos. A versão digital é totalmente gratuita.