Das maiores cidades às menores vilas, a notícia se espalha como um incêndio. Conacri, a capital da Guiné, foi nomeada a Capital Mundial do Livro de 2017 pelo Comitê Consultivo de Especialistas reunido na Sede da UNESCO em Paris. Essa cidade portuária do Atlântico é a 17ª em todo o mundo a ser indicada, e apenas a terceira cidade africana a receber esse reconhecimento. O pontapé inicial acontece no dia 23 de abril, o Dia Mundial do do Livro e dos Direitos Autorais.
Por Koumanthio Zeinab Diallo
A notícia, transmitida pela mídia e pelas rádios comunitárias, em geral foi recebida com entusiasmo, embora algumas pessoas acreditem que cultura e livros não são uma prioridade, considerando a extrema pobreza da população. Contudo, muitos reconhecem a nomeação como uma oportunidade para a cultura guineense ser mostrada no cenário internacional. Algumas pessoas chegam mesmo a esperar que o evento traga benefícios econômicos, com a quantidade de visitantes que ele atrairá e a atividade que criará. Para ávidos amantes da literatura, essa é uma oportunidade de dar aos livros e à cultura o reconhecimento que eles merecem. Autores que terão destaque incluem Camara Laye (1928-1980), que escreveu a autobiografia L’enfant noir (A criança negra, em tradução livre), e Fodéba Keita (1921-1969), escritor, compositor e criador da companhia de dança Les Ballets Africains (Os Balés Africanos). Editoras guineenses veem a indicação como uma oportunidade de promover suas obras, de encontrar outras editoras e editores, e de descobrir novos autores.
Escritores, editoras, livrarias, gráficas, acadêmicos, jornalistas, estudantes e basicamente todas as pessoas que se sentem envolvidas no mundo do livro têm como objetivo o sucesso desse evento, que irá durar o ano todo. O ministro da Cultura, dos Esportes e do Patrimônio Histórico assegurou que o evento teve destaque durante os dias dedicados ao desenvolvimento de uma política cultural para a Guiné em âmbito regional, que aconteceram em quatro regiões do país entre meados de novembro e meados de dezembro de 2016.
Instituições responsáveis pela promoção de livros e da leitura têm trabalhado muito para comemorar o evento. Na região de Labé, a Superintendência para a Cultura está promovendo livros e a leitura em colaboração com o Museu Fouta e o Guinea PEN Centre, que criou 40 clubes escolares incluindo bibliotecas rurais.
Labé, a segunda maior cidade da Guiné, que apresenta uma alta concentração de escritores, jornalistas, clubes literários e bibliotecas, estabeleceu pontos de encontro para celebrar o evento. Houve sugestões de se realocar certas atividades de Conacri para Labé. Estas incluem a inauguração de quatro novos clubes escolares pelo Guinea PEN Centre, o lançamento de um catálogo dos escritores da região e um álbum de fotos da mostra Merveilles du Fouta (As Maravilhas de Fouta, em tradução livre), no Museu Fouta Djallon. Debates dedicados a livros e à leitura também acontecerão na universidade e em escolas de ensino médio nesta cidade.
Em Conacri, cartazes anunciando o Ano Mundial do Livro estão sendo colados nas paredes da cidade, e panfletos sobre o evento estão sendo distribuídos em todos os lugares. Locais em todos os distritos da cidade, e até mesmo em cidades vizinhas, foram identificados para o estabelecimento de bibliotecas de mídia e pontos de leitura. O principal objetivo por trás desse grande evento, afinal de contas, consiste em tornar os livros acessíveis ao maior número possível de pessoas. De fato, é impossível desenvolver uma cultura de leitura se os livros são difíceis de se encontrar e se não existem bibliotecas.
O Ano Mundial do Livro ajudará a estimular a população alfabetizada a ler mais e, da mesma forma, promoverá o desenvolvimento e o impacto dos livros, e tornará os livros mais facilmente acessíveis, tanto para os estudantes como para os cidadãos em geral, de modo que eles sejam capazes de transformar o prazer da leitura em uma parte de sua vida cotidiana. E quem sabe, eventualmente talvez haverá bibliotecas de mídia e pontos de leitura em todas as regiões da Guiné. Assim, o sonho de minha avó finalmente se tornaria realidade: como muitas mulheres de sua época, ela queria decorar sua sala de estar com estantes cheias de livros. Porém, considerando seu conteúdo, elas acabaram se tornando algo como uma “bibelôteca”!