Construir a paz nas mentes dos homens e das mulheres

Grande Angular

Geração de afroempreendedores

31524048270_df903190ec_o.jpg

Lancement du nouveau pôle urbain Diamniadio,
un modèle de ville intelligente établie à 30 km au sud-ouest de Dakar, Sénégal
© flickr.com / photos / presidencesenegal
Incubadoras de start-ups, laboratórios de fabricação, sites e serviços digitais, e oficinas participativas – a juventude africana mergulhou direto na Era da Informação e na ideia de Cidades Inteligentes. Empreendedores e artistas afrocêntricos, dedicados e com experiência em mídias estão realizando networking, inovando e usando as indústrias criativas e culturais como alavancas para o desenvolvimento.

Por Ayoko Judith Mensah 

De Dacar a Nairóbi, jovens estão no coração de uma revolução de mídias digitais que está acontecendo em todo o continente africano. Com incubadoras de start-ups, laboratórios de fabricação (fab labs) ou oficinas de pequena escala, sites e serviços cibernéticos, assim como novos espaços de trabalho colaborativo, um número cada vez maior de jovens – fãs de tecnologias, hiperconectados, instruídos e inventivos – estão plenamente na nova economia digital.
 
Essa nova geração foi apelidada de “afroempreendedores” (“afropreneurs”). Não importa quão diversas sejam suas atividades, eles compartilham um DNA comum – o mundo digital, uma abordagem que interconecta necessariamente o local com o global, e um desejo de contribuir para a melhoria das condições de vida em toda a África.
 
Karim Sy, que mora em Dacar e fundou os Jokko Labs em 2010, é provavelmente o mais conhecido desses jovens empreendedores. Sua organização sem fins lucrativos é definida como um “agrupamento [cluster] virtual comprometido com a transformação social e com base em uma comunidade de empreendedores e uma rede de centros de inovação”. Porém, existem muitos outros exemplos, como a start-up, Agendakar, (o maior portal cultural web da capital do Senegal). Aqui, o jovem empreendedor Ousseynou Khadim Bèye, que criou um jogo para smartphones chamado Cross Dakar City, usa o jogo para alertar o público em geral sobre o triste destino dos talibés – meninos que deixam suas casas para estudar em escolas corânicas e são explorados e levados à mendicância nas ruas de Dacar.
 
É uma boa aposta dizer que esses inovadores em indústrias culturais e criativas também serão atoreschave em Diamniadio, a primeira Cidade Inteligente do Senegal. Localizada a apenas 30 km de Dacar, espera-se que ela cresça substancialmente nos próximos anos.

De Cidade Inteligente a Cidade Nacional

Diamniadio não é a única Cidade Inteligente no continente africano. Conforme testemunhado pela revolução em andamento, o desenvolvimento de vários projetos urbanos e centros digitais de excelência também está decolando em outros países. Na Nigéria, Yaba, um subúrbio de Lagos, já é o mais conhecido hub de tecnologia da África, apelidado de “Yabacon Valley”. No Quênia, a Cidade Tecnológica de Konza abriga 250 start-ups e é conhecida como a “Savana Africana de Silício”. Exemplos parecidos existem em Benin, onde o governo desenvolveu o projeto Cidade Inteligente Benin; no Marrocos, onde foi lançado o Cluster Cidade Inteligente Casablanca, e-Madina; assim como em Ruanda e na África do Sul.

Embora sem dúvida esses novos hubs urbanos abram novas oportunidades para a juventude africana, eles também levantam algumas questões. Em 2010, Senamé Koffi Agboginou, antropólogo independente e estudante de arquitetura togolês, fundou a Plataforma Africana de Arquitetura. Ele acredita que as Cidades Inteligentes africanas, não devem tentar reproduzir exemplos do Ocidente, mas sim inventor seus próprios modelos derivados dos contextos locais. Ele desenvolve a ideia de “modernidade ancorada” em um distrito de Lomé, a capital do Togo, onde abriu o Woelab, que se descreve como “o primeiro espaço africano dedicado à democracia tecnológica”. Seu objetivo consiste em tornar a tecnologia de ponta acessível a todos os moradores locais, um “fab lab no nível da rua”.

“Nós devemos ir além da Cidade Inteligente, para a cidade nacional do amanhã, a cidade que compartilha”, diz S. K. Agboginou, que desenvolveu sua própria teoria de “baixa alta tecnologia”, tornando as tecnologias acessíveis aos consumidores de baixa renda. Ele propõe uma espécie de democracia digital e inteligência coletiva que tornariam autônomos os habitantes locais: “Nós somos os únicos na África a reunir designers, empreiteiros, pedreiros, carpinteiros, designers de moda e até pessoas sem-teto, em um lugar para projetos compartilhados”, ele explica em um artigo da revista Forbes Afrique. Pessoas de todos os lugares estão conversando sobre o Woelab – como uma incubadora de start-ups e um lugar onde treinamento e oficinas são acessíveis a todos. A equipe destacou sua habilidade tecnológica com a invenção da W.Afate, uma impressora 3D de alta tecnologia feita inteiramente a partir de lixo eletrônico!

Cultura com uma forte orientação social

O surgimento de um número cada vez maior de afroempreendedores não deve ofuscar o dinamismo e a criatividade de jovens artistas e atores culturais em todas as cidades africanas. Esses artistas estão trabalhando para que suas vozes sejam ouvidas, tentando ganhar a vida com sua arte, e trabalhando para melhorar suas cidades apesar dos recursos limitados e das circunstâncias difíceis. Em Brazavile, Kinshasa, Lubumbashi, Duala, Ségou e N’Djamena, existem vários projetos-protótipo que vinculam uma abordagem artística ao impacto social.
 
Os Ateliês Salm, fundados pelo escultor Bill Kouélany em Brazavile, apoiam uma nova geração de jovens muito talentosos. A Bienal Lubumbashi, que foi realizada pela quarta vez em 2015, ganhou atenção internacional. Em Kinshasa, que já é conhecida por sua música, existem mais e mais festivais que destacam as excepcionais riquezas culturais da cidade.
 
Em Dacar, além da renomada Bienal Dak’Art de arte africana contemporânea, o festival Afropixel, organizado pela Associação Ker Thiossane,  está adquirindo reconhecimento como uma plataforma para projetos,  eventos, debates, discussão, e experimentação artística e social. A Ker Thiossane pretende explorar o potencial das novas mídias para estimular um desenvolvimento local que seja inclusivo e sustentável, enquanto observa o que define as características especiais de uma cidade criativa africana. Assim, em 2016, o tema do quinto festival Afropixel foi “Cidade Compartilhada”, um assunto amplo que deu origem a uma movimentada programação de oficinas de fab labs, artistas residentes, estúdios abertos, exibições, instalações públicas, projeções de mapeamento por vídeo e inúmeros intercâmbios.


A performance de vídeo/dança, de Tiziana Manfredi e Andreya Ouamba, explora a ligação entre a vida cotidiana e o espaço urbano, na Dak’Art 2016.
© Tiziana Manfredi

Ao longo dos últimos 10 anos, vários eventos ligados ao hip-hop floresceram em todo o continente. De forma marcante e gradual, isso deu origem a uma rede totalmente nova de artistas, produtores e festivais que hoje ajudam a conduzir a colaboração artística, a solidariedade e a transformação social. Rappers se envolveram muito em causas sociais e em movimentos de protesto social, como o grupo musical Y’en a Marre (Estou Farto) no Senegal, Le Balai Citoyen (A Vassoura Cidadã), um movimento político de base em Burkina Faso, e o movimento Iyina – que significa “Estamos Cansados” no árabe local – no Chade.
 
Em maio de 2016, Smockey (Serge Bambara) o rapper e ativista burquinense, cofundador do Balai Citoyen, foi o primeiro a receber o respeitado prêmio Music in Exile Fund Fellowship. O prêmio anual – organizado pelos ativistas da liberdade de expressão Index on Censorship e pelos produtores do documentário They will have to kill us first (Eles terão de nos matar primeiro, em tradução livre) – reconhece pessoas de todo o mundo que colocaram sua arte a serviço da liberdade. Dois meses depois, quando o estúdio de Smockey em Uagadugu foi destruído por um incêndio, uma enorme campanha internacional foi lançada nas mídias sociais para financiar sua reconstrução.
 
Os jovens artistas e empreendedores culturais africanos são criativos e engajados, mas também estão determinados a dar o melhor uso possível aos potenciais e recursos consideráveis das ferramentas digitais, para construir o futuro com que sonham.
Saiba mais sobre

A Rede da UNESCO de Cidades Criativas

O relatório mundial Culture: Urban Future

UNESCO e os ODS
Ayoko Judith Mensah

Ayoko Judith Mensah é uma jornalista e consultora franco-togolesa. Após ter fundado e editado a revista Afriscope, ela trabalhou como especialista na União Europeia – África, Caribe e Pacífico (EU-ACB) APCCultures+, no Secretariado do ACP (Grupo de Estados Africanos, Caribenhos e do Pacífico) em Bruxelas. Atualmente, trabalha como consultora no setor da África do Centro de Belas Artes em Bruxelas.