Toril Rokseth (Noruega) é diretora de educação no Centro Nobel da Paz, onde chefia uma equipe de quatro educadores.

A paz é mais do que a ausência de guerra. Esse é o ponto de partida essencial da curva de aprendizado dos jovens. O Centro Nobel da Paz, em Oslo, vitrine oficial do Prêmio Nobel da Paz, tem seu próprio programa educacional que ensina sobre a paz. Mais de 10 mil crianças de entre 6 e 19 anos de idade visitam o Centro todos os anos.
Por Toril Rokseth
Todos os anos, milhares de crianças em idade escolar entram pelas portas de uma estação de trem reformada e adaptada, com vista para o porto no coração de Oslo, a capital da Noruega, em busca de uma coisa fugaz: a paz.
Uma iniciativa de Geir Lundestad, ex-diretor do Instituto Nobel da Noruega, o Centro Nobel da Paz funciona como um museu sobre o Prêmio Nobel da Paz. Uma fundação independente financiada por meio de doações privadas e subsídios governamentais, sua missão consiste em promover o interesse e a conscientização sobre o Prêmio Nobel da Paz, bem como contar a história de Alfred Nobel e dos ganhadores do prêmio.
Por meio de seus eventos, o Centro tem como objetivo fomentar a reflexão sobre o envolvimento com temas relacionados à guerra, à paz e à resolução de conflitos. Desde que abriu, em 2005, já recebeu mais de 1,6 milhão de visitantes em suas mais de 60 exposições permanentes e temporárias – incluindo 12 sobre o Prêmio Nobel, assim como exposições sobre os ganhadores e outros líderes mundiais.
Juntamente com esse trabalho, o Centro desenvolve um programa educacional para abrir as mentes dos jovens ao conceito de paz, como é definido e cultivado. Mais de 10 mil crianças com idades entre 6 e 19 anos da Noruega, da Europa e de outros lugares visitam o Centro todos os anos.
Uma equipe de quatro educadores formados lá mesmo cuida de dez programas por ano, pensados para um público de crianças, famílias e estudantes mais velhos. Qualquer escola ou indivíduo pode se inscrever para as sessões de treinamento de uma hora e para outras atividades, incluindo debates e filmes, todas contemplando os temas centrais da história do Nobel da Paz – tais como resolução de conflitos e direitos humanos.
Nossa primeira tarefa com as crianças é explorar o conceito de paz. Todos sabem que desejam a paz, mas não é tão fácil falar ou ensinar sobre ela. Quando começamos a defini-la, a maioria dos estudantes diz, primeiro, que paz é a ausência de guerra.
Porém, isso é suficiente? Nós os desafiamos a pensar para além disso. A paz pode ser algo mais do que a ausência de guerra? E, em caso positivo, o que é? E o que destrói a paz? As respostas óbvias são a guerra e os conflito, mas a paz também pode ser destruída pela pobreza, pelo racismo, por desastres ambientais, ou pela ausência de democracia e de direitos humanos. Começamos então a fazer perguntas mais difíceis. Se o racismo destrói a paz, não devemos ser contra ele? Se a pobreza destrói a paz, não devemos trabalhar para erradicá-la? Se a ausência de direitos humanos destrói a paz, não devemos lutar para garantir direitos humanos para todos?
Nós também perguntamos aos estudantes o que eles acham que promove a paz. Isso nos permite explorar de forma mais ampla temas como direitos humanos, como países e grupos podem trabalhar em conjunto, e o respeito entre as pessoas. O propósito dessas perguntas é provocá-los a entender que a paz é um conceito positivo, e não negativo.
No Centro, acreditamos que o objetivo do nosso trabalho é que os estudantes adquiram conhecimento e valores que podem ser transformados em ações que os beneficiam pessoalmente, assim como suas comunidades. Para formar cidadãos conscientes, tolerantes e empáticos, as fundações devem ser a democracia, os direitos humanos e a resolução de conflitos.
“A democracia deve nascer de novo a cada geração, com a educação como sua parteira”, escreveu John Dewy (1859-1952) em A escola e a sociedade. O norte-americano filósofo, psicólogo e reformista da educação acreditava em ensinar as crianças por meio de resolução de problemas, em vez de aprender os fatos de forma mecânica. Nós tentamos usar a mesma abordagem.
Quando falamos sobre direitos humanos, começamos com o básico, como perguntar aos estudantes se eles se sentem ouvidos quando expressam suas opiniões. A partir daí, é um pequeno passo para falar sobre aqueles que foram impedidos de falar livremente – como os ganhadores do Nobel Nelson Mandela ou o pacifista alemão Carl von Ossietzky, fpor exemplo. Então, discutimos sobre a responsabilidade que vem dos direitos humanos básicos.
Adaptamos nossos métodos à idade e às habilidades de nossos estudantes. Sabemos, por exemplo, que a dramatização funciona muito bem para ensinar aos estudantes mais novos sobre a importância dos direitos das crianças. Desafiamos os estudantes mais velhos a tomar uma posição em casos difíceis com base em dilemas da vida real. Acima de tudo, tentamos garantir que as sessões sejam relevantes e ajudem a construir o pensamento crítico.
Uma discussão dirigida com perguntas abertas pode reforçar a capacidade de empatia dos estudantes. O que é racismo? O que acontece dentro de uma pessoa exposta repetidamente ao racismo? Quais são as consequências do racismo? Nas discussões em grupo, os estudantes aprendem como articular suas opiniões e expandir seu vocabulário teórico. Usamos suas experiências pessoais para reforçar o aspecto universal dos direitos humanos e para criar um contexto seguro em que eles possam compartilhar experiências e experimentar pontos de vista uns com os outros.
Nossos programas também utilizam o nosso arquivo e o trabalho dos premiados como exemplos concretos poderosos de ações pela paz. Isso pode incluir a escritora e pacifista austríaca Bertha von Suttner (a primeira mulher a ganhar sozinha o Prêmio Nobel da Paz, em 1905), por seus esforços persistentes no movimento internacional pela paz; o uso de métodos não violentos pelo ativista norte-americano Martin Luther King, Jr. (ganhador em 1964) no movimento pelos direitos civis, ou o trabalho audacioso da advogada de direitos humanos iraniana Shirin Ebadi (ganhadora em 2003) em prol dos direitos humanos universais.
Para dar continuidade ao trabalho, nós recomendamos fortemente que os professores retomem em sala de aula os diálogos iniciados no Centro. Fornecemos tarefas de acompanhamento em nosso website, para apoiar a prática e as atividades de aprofundamento. Com frequência, recebemos respostas muito positivas dos professores sobre o quanto a visita estimulou o pensamento e o debate entre seus estudantes.