UNESCO mostra que 40% dos países mais pobres não apoiam os estudantes em situação de risco durante a crise da COVID-19 e pede por inclusão na educação
O Relatório de Monitoramento Global da Educação (Relatório GEM) de 2020 oferece uma análise aprofundada sobre os principais fatores da exclusão de estudantes em sistemas educacionais de todo o mundo, incluindo histórico, identidade e habilidades (ou seja, gênero, idade, local onde vivem, pobreza, deficiência, etnia, indigeneidade, língua, religião, status de migrantes ou deslocados internos, orientação sexual ou expressão de identidade de gênero, encarceramento, crenças e atitudes). O Relatório identifica um aumento da exclusão durante a pandemia da COVID-19 e estima que cerca de 40% dos países de renda baixa e média-baixa não apoiaram os estudantes desfavorecidos durante o fechamento temporário das escolas.
“Para enfrentar os desafios do nosso tempo, é imperativo dar um passo na direção da educação mais inclusiva”, disse a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay. “Repensar o futuro da educação é ainda mais importante após a pandemia da COVID-19, que ampliou ainda mais e destacou as desigualdades. A inação prejudicará o progresso das sociedades”.
Fundamentos desiguais: Juntamente com a publicação lançada hoje, a equipe do Relatório GEM da UNESCO também lançou um novo site, o PEER, com informações sobre leis e políticas relativas à inclusão na educação de todos os países do mundo. O PEER mostra que muitos países ainda praticam a segregação na educação, o que reforça estereótipos, a discriminação e a alienação. Um quarto dos países possuem leis que determinam que as crianças com deficiências sejam instruídas em contextos separados, atingindo mais de 40% na América Latina e Caribe, bem como na Ásia.
O Relatório mostra que, muitas vezes, os sistemas educacionais não levam em consideração as necessidades especiais dos estudantes. Em todo o mundo, apenas 41 países reconhecem oficialmente a linguagem de sinais e, também em âmbito mundial, as escolas têm mais interesse em obter acesso à internet do que atender estudantes com deficiências. Cerca de 335 milhões de meninas frequentavam escolas que não lhes ofereciam serviços de água, saneamento e higiene dos quais precisavam para continuar frequentando as aulas no período menstrual.
Isolamento dos estudantes: Quando os estudantes não são representados de forma adequada nos currículos e nos livros didáticos, eles podem se sentir isolados ou alienados. Meninas e mulheres representavam apenas 44% das referências em livros didáticos de inglês na educação secundária da Malásia e da Indonésia, 37% em Bangladesh e 14% na província de Punjab, no Paquistão. Os currículos de 23 entre 49 países europeus não tratam de questões de orientação sexual, identidade ou expressão de gênero.
Os professores precisam e desejam ter formação sobre inclusão; nesse sentido, menos de um entre dez professores da educação primária em dez países francófonos da África Subsaariana disseram tê-la recebido. Um quarto dos professores em 48 países disseram que querem ter mais formação sobre o ensino de estudantes com necessidades especiais.
“A existência de dados inadequados significa que nós estamos deixando de ver uma enorme parte do quadro”, diz Antoninis. “Não é de admirar que as desigualdades expostas repentinamente durante a pandemia da COVID-19 tenham nos pegado de surpresa”.